Dois concertos com letra(s) grande(s)

Ontem houve concertos dos bons na Casa da Música. A coisa também não era para menos – por um lado havia os PAUS, super-banda portuguesa cuja música de apresentação Mudo e Surdo me aguçara a curiosidade para o que têm andado a preparar para o seu EP de estreia, “É uma Água”. Por outro, havia os HEALTH, californianos pouco solarengos, responsáveis por “Get Color”, um dos melhores álbuns que 2009 pôde ouvir.

À hora marcada os PAUS entram em palco. A já famosa “bateria siamesa” está ao centro, chegada à frente – após alguns minutos percebe-se bem o porquê do destaque que lhe é dado. Nela estão sentados, frente a frente, Joaquim Albergaria (ex-Vicious Five) e Hélio Morais (Linda Martini). A acompanhá-los temos um baixo e teclados. Os bateristas são incansáveis, e só é possível dizer bem do trabalho que fazem. O teclado dá uma melodia interessante às canções, que também são acompanhadas não raras vezes por vozes (geralmente não recorrendo ao uso de palavras). Continuo com a mesma opinião que quando ouvi a já referida música de apresentação: parecem-me uns Battles menos matemáticos. Tocaram pouco mais de meia-hora, e a vontade de que “É uma Água” chegue rápido é ainda maior. Foi um concerto fabuloso (serem músicos experientes também poderá ter ajudado), e parece-me difícil que a passagem para estúdio corra mal. Mais uma grande banda que nasce por cá nos últimos tempos.

Em pouco mais de 25 minutos vai-se de Lisboa a Los Angeles, onde encontramos os HEALTH prontos a fazer ruído do bom. A potência do som deles ao vivo é algo difícil de explicar, mas para se ter uma ideia, em 2008 quando estes tocaram no Museu de Olaria de Barcelos, houve quem receasse que nem tudo sobrevivesse ao seu espectáculo. Os HEALTH usam bateria, um timbalão, guitarras, baixo e sintetizadores e com isso produzem a sua mistura de noise-rock, shoegaze e electrónica para gente crescida. São aliás os contrastes que fazem da música dos HEALTH algo de especial – a distorção e agressividade das batidas quase constante no seu som contrasta grandemente com a voz melódica de Jake Duzsik e com alguns acordes mais doces da sua guitarra. E tudo isto ao vivo soa ainda melhor que em disco, pois tanta energia não é fácil fazer sair por umas meras colunas caseiras. Este concerto fez-me lembrar em vários aspectos os Fuck Buttons ao vivo, o que por si só, já é um óptimo sinal (por coincidência ou não, reparo no fim que o baterista vestia um t-shirt da banda de “Tarot Sport”). Que voltem cá, que bandas a darem concertos destes há muito poucas. De certeza um dos concertos do ano, mesmo que ainda faltassem 12 meses para o seu fim.

Uma noite com dois concertos 5 estrelas. É isto que se quer.

FPL 9000

~ por FPL 9000 em 030610.

4 Respostas to “Dois concertos com letra(s) grande(s)”

  1. “São aliás os contrastes que fazem da música dos HEALTH algo de especial – a distorção e agressividade das batidas quase constante no seu som contrasta grandemente com a voz melódica de Jake Duzsik e com alguns acordes mais doces da sua guitarra.”

    Comecei a ouvir HEALTH há mais de um ano mas só a meio do concerto que vi em Lisboa me apercebi disso que falas. Foi como uma epifania que me fez ouvir de facto o que eles têm de especial: estava a ouvir uma melodia suave que saia da guitarra e voz do Jake e a apreciar só isso quando me apercebi que dos intrumentos dos restantes 3/4 dos HEALTH saia noise puro e electrónica violenta que dava para curtir de uma maneira totalmente diferente. Genial.

  2. Pois é, nesse aspecto são muito My Bloody Valentine, não achas?

  3. Sim, mas nos HEALTH penso que a coisa passa mais despercebida (pelo menos para mim), o que acaba por ter mais piada quando se descobre. Eu já tinha reparado obviamente no contraste que a voz do Jake faz em algumas músicas, mas não no que a guitarra faz com a guitarra do Jupiter, a bateria do BJ e o que quer que o John esteja a fazer não. Mesmo muito fixe.

    A propósito, em Lisboa eles tocaram uma música bastante calma que não me lembro de estar em nenhum dos álbuns. Sabes se é nova e sabes o nome? Obrigado.

  4. Sim, é capaz, até porque a voz apesar de ser melódica/suave, mistura-se muito facilmente com o som, e quase que se torna ela própria parte de todo aquele ruído e distorção.

    Não sei, também penso ter ouvido uma que não conhecia, mas eu ouvi pouco o primeiro álbum deles, por isso não garanto que não seja de lá.

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